Clássicos Modernos 07 | O Livro de Eli


Classicos modernos 7-1Um filme incompreendido por muitos, mas que com o passar dos anos ganhou status de “Cult”. O Livro de Eli, dirigido pelos irmãos Albert e Allen Hughes, é um filme com idéias fantásticas e originais em seu roteiro de Gary Whitta.

A trama do filme se passa num mundo devastado e desértico, 30 anos após uma misteriosa guerra que devastou o planeta (não são dadas maiores informações sobre como essa devastação ocorreu, isso é digno de nota, em um cinema didático como tem sido o moderno).

Um andarilho solitário chamado Eli, é interpretado com maestria, sem muito esforço por Denzel Washington um “herói” que vive de amputar membros e matar violentamente os inúmeros criminosos pós-apocalípticos que encontra pelo seu caminho vagando rumo ao Oeste juntamente com sua mochila e o que pode ser o último exemplar existente da Bíblia Sagrada. Nessa jornada Eli chega a uma cidadezinha controlada por seu antagonista, Carnegie (Gary Oldman), vilão cuja missão de vida é justamente encontrar um exemplar da Bíblia para poder “dominar, lavar cerebralmente” a população.

Falam que O Livro de Eli é uma mensagem cristã ou uma história evangélica num filme sobre um anti-herói, religioso, errante que viaja pelo que restou do mundo, mas que ao mesmo tempo mata brutalmente quem quer que se coloque em seu caminho. Se esse é o ideal de um “herói católico” ou a “peregrinação de alguém com fé”, então estaríamos de frente a uma mensagem religiosa que faz apologia a violência. NÃO! ESSA NÃO É A MENSAGEM DO FILME.

No filme, nunca fica bem claro o objetivo de Eli ao preservar com tanta obstinação o livro sagrado. Pode-se comparar o personagem a um extremista religioso, que age de forma enérgica em nome da fé; isso tira a imagem de “soldados de Cristo” do protagonista, como certos cinéfilos propagaram no seu lançamento, e assim sendo, fica claro que o filme – de gospel, não tem nada.Classicos modernos 7

O roteiro de O Livro de Eli também é bem claro nas duras criticas a religião hoje em dia: Em certa cena, o vilão interpretado muito bem por Oldman diz: “não é a porra de um livro, é uma ARMA!”. E não o é até hoje? Até no universo do filme dos irmãos Hughes, a religião (aqui na forma da última Bíblia existente) é usada para ganhos egoístas e pessoais, um verdadeiro produto comercial, é deixando de lado seu poder de auto ajuda para Dominar e lucrar. Lembrando que nas palavras do próprio Jesus Cristo, a mensagem da bíblia é recebida de graça e de graça deve ser passada.Classicos modernos 7-3

Eu, pessoalmente, acredito que a religião não é a raiz de todo o Mal, muito pelo contrário, e isso também está nas entrelinhas do filme. Fica muito claro, até a (surpreendente) revelação final de O Livro de Eli, que o tom do roteiro não é “pró-religião” e nem completamente “anti-religião”, o filme não levanta unicamente uma dessas bandeira, mas levanta com excelência as duas, com essas questões que se fazem tão validas em tempos de “Guerras Santas” como as de hoje, seja você cristão, evangélico, agnóstico, budista, ateu e demais crenças.

Aspectos religiosos a parte, a obra se destaca  com sua fotografia acinzentada, o filme se torna visualmente bem atrativo, nos transporta para àquele mundo destruído onde vivem os personagens. Os irmãos Hughes usam vários planos belos e bem abertos, revelando estradas desertas, carcaças de veículos, cidades destruídas e principalmente enormes cicatrizes da guerra que destruiu o planeta.

Os irmãos também demonstram-se competentes nas cenas de ação, sem abusar da câmera epilética típica das produções modernas ou da lenta. O grande momento do filme, disparado, é a câmera entrando e saindo do interior de uma casa durante uma feroz batalha entre os heróis e os vilões. Tal cena se parece, e muito com um plano sequência, mas não é; nenhum corte é visível aos nossos olhos.

O final é uma das maiores qualidades desse clássico, espertíssimo e com uma bela revelação-surpresa. A qual talvez nem o expectador mais atento deduziu.

Por que considerar O livro de Eli um clássico moderno?

Um tema tão polêmico como religião, nunca foi tratado de forma tão POP e ainda assim profunda. Com muito pouco para se desmerecer, Eli é um blockbuster inteligente e cheio de atrativos, onde o grande tesouro para os personagens não é a água ou a gasolina, mas sim a esperança proporcionada pela religião – ou o poder de manipulação da mesma. E esses dois lados em época tão extremista como as nossa, cultuam essa obra a um patamar unicamente clássico. Em tempos de masturbações megalomaníacas de heróis e vilões, sempre é bom ver uma história original,  filosófica e polemica sendo tão bem contada na sétima arte.

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Nerd: Julio Garcia

Design gráfico, fotógrafo, aspirante a escritor, DCnauta assumido, que tenta empregar no pequeno filho a DC e o equilíbrio da força, cinéfilo desde o dia mais claro e a noite mais escura, indo ao infinito e além nos universos que gosta.

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