Contos do posto de gasolina | Parte 01/08

Sou apaixonada por creepypastas, desde as mais conhecidas, como Slenderman, até as mais “obscuras”, porém tenho um pouco de preguiça de lê-las. Então encontrei um modo de me manter em dia com essas histórias de terror: canais de narração de creepypastas no Youtube. Ouço como se fossem podcasts e conheço várias novas. Há algum tempo, me deparei com essa, que ouço até hoje e se tornou uma das minhas favoritas. Apresento a vocês os “Contos do posto de gasolina”, série em 8 partes escrita pelo usuário GasStationJack do subreddit NoSleep.

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No meio da estrada na nossa cidade, existe um posto de gasolina de merda que abre 24 horas por dia, sete dias na semana. Ao entrar na loja de conveniência, há prateleiras e prateleiras de batatas fritas, bolachas e carne enlatada de marcas desconhecidas e as coisas mais estranhas em conserva. Datas de validade apagadas de forma suspeita dos produtos enlatados, como se tivessem sido estocados anos atrás, em alguma tentativa maldosa de controlar o dinheiro gasto com o inventário. Uma placa com os dizeres “chão escorregadio” apagados nos fundos da loja cobre uma rachadura enorme no chão, perto do refrigerador, onde camadas de algo viscoso derramado no chão formou um pequeno poço de piche, preservando inúmeros insetos mortos e, às vezes, pequenos roedores.

Ninguém nunca reclamou sobre o visual da loja. Em nome de alguma forma sobrenatural, a vigilância sanitária já deixou que a loja continuasse funcionando várias vezes, sempre gentilmente ignorando o leve cheiro de alguma substância química misteriosa que é característica do estabelecimento. Mais característica do que o ruído mecânico incessável da máquina de frozen que foi instalada nos anos 70 e nunca funcionou. Mais perturbador que as correntes de ar gelado e quente aleatórias que parecem perseguir as pessoas dentro da loja. E mais irritante do que a família de guaxinins mutantes que vive no espaço oco embaixo da loja, atrás do filtro de gordura. Pelo menos nós achamos que eles são mutantes. No mínimo, devem ter se acasalado entre eles a ponto de se tornarem deformados geneticamente ou mentalmente retardados. O líder, um filho da puta forte e grande chamado Rocco, já foi visto inúmeras vezes roendo os pneus das pessoas e já fugiu pelo menos duas vezes, mas sempre volta.

O cheiro persistente, uma bela combinação entre madressilva, amônia e vômito, nunca foi realmente identificado, mas a principal teoria é que ele vem do subsolo, vindo das pequenas rachaduras no concreto que aumentam e se espalham a cada ano de assentamento arquitetônico. É mais forte logo depois que chove e fica insuportável a ponto dos olhos lacrimejarem quando se chega muito perto da galeria pluvial, onde até mesmo o Rocco e sua gangue não chegam perto.

Ao entrar, também é possível ver o cowboy do banheiro. Ele é meio que uma lenda urbana por aqui, só aparecendo quando se está sozinho e desatento. O que o torna realmente lendário são as histórias que as pessoas contam após o alegado encontro. Os relatos vão de “muito estranho” até “extremamente bizarro”. Como o cara do mês passado, que foi usar o banheiro, mas mudou de ideia quando o viu parado perto do urinol, segurando um espanador e vestindo uma bandana, botas e aquelas calças de couro de cowboys, abertas na área genital, entregando balões em forma de animais. Ou há duas semanas, quando outro cliente pisou no mesmo banheiro e viu um homem vestindo nada além de um chapéu de cowboy, cueca e botas com esporas, literalmente moendo um machado em uma roda de afiar de pedra à moda antiga. Quando ele entrou, o cowboy parou o que estava fazendo, olhou para cima e com um sorriso e um aceno com o chapéu disse: “Venha, homem. Vamos com isso”. Se você for sortudo o suficiente para ver ou não o cowboy que pode ou não assombrar o banheiro, não se preocupe. Ele é inofensivo e, na verdade, bastante educado. Honestamente, ele não é tão ruim. Principalmente se comparado com algumas das outras coisas que acontecem nesse lugar.

Ao entrar, você instantaneamente sentirá uma dor de dente. Esse é um fenômeno estranhamente comum que ninguém nunca entendeu. Ela desaparece sozinha algumas horas depois. Ou é certo me ver sentado atrás do balcão, porque sou o único funcionário de período integral e quase sempre estou aqui. É provável que eu esteja lendo um livro, porque, por alguma razão, a internet não funciona aqui e o sinal do celular é fraco em dias bons e inexistente na maioria. Se você precisar fazer uma ligação, pode-se sair e subir a colina, de preferência de volta para a cidade, porque o outro caminho leva ao bosque e você não quer ir para lá por motivos de não ser uma boa ideia. Ou é só me pagar 25 centavos por minuto e usar o telefone da loja. (Esse acordo foi estabelecido pelos donos e eu tenho que respeitá-lo porque eles realmente checam o histórico de ligações. Desculpe.)

Enquanto você estiver aqui, não se ofenda se eu não conversar, porque, sendo muito honesto, nunca tenho certeza se o que entra pela porta é de verdade ou não, e, se eu tivesse que saber de todos que entram na loja quem é real ou não, eu ficaria louco. E não precisamos mais disso por aqui.

Acho que o ponto que estou tentando levantar é o seguinte: coisas estranhas acontecem comigo nesse trabalho no posto de gasolina de merda no meio da estrada. Gostaria de contar as coisas mais esquisitas que já aconteceram aqui, mas duvido que eu conseguiria escolher. São muitas.

Já vi um total de quatro caixões no meio da loja em três ocasiões diferentes. Já encontrei pelo menos uma dúzia de pessoas perambulando do bosque de volta para a cidade, alegando que tinham escapado de extraterrestres ou de conspiradores governamentais e não tinham dinheiro para fazer uma ligação e se eu, por favor, poderia deixá-los usar o telefone da loja antes que “eles” os encontrassem de novo. Mas regras são regras e não estou inclinado a perder meu emprego só porque você não escapou do cativeiro sem algumas moedas.

E, claro, tem o Fazendeiro Brown (é, esse é o nome de verdade dele), quem ficou puto com a gente e reclamou da comida a granel que estávamos encomendando para ele, que insistiu que algo estava errado com o produto porque, como ele disse, de repente todos seus animais estavam com rostos humanos. Acordamos de dá-lo um grande desconto em suas próximas compras. Ele parou de vir pouco tempo depois e acharam o que era o resto de seu corpo dentro de um quarto em sua fazenda, trancado por dentro. Pelo que sei, isso ainda não foi solucionado.

De qualquer forma, acho que posso voltar e contar uma ou outra história, mas primeiro tenho que me aprontar para o trabalho.

Nerd: Nathalia Lossolli

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