Cuidado Com o Slenderman… mas não precisa ter tanto cuidado assim

O documentário dirigido por Irene Taylor Brodsky toma como gancho de narrativa o terrível caso real que abalou o mundo em 2014.

Em Winsconsin, duas garotas de 12 anos, Anissa Weier e Morgan Geyser foram acusadas de tentativa de homicídio contra Peyton ‘Bella’ Leutner, após as duas terem levado a menina para um bosque a fim de matá-la a facadas. O motivo do crime? Conseguir acalmar a ira de Slenderman e tornarem-se suas servas fiéis.

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Anissa Weier na sala do interrogatório algumas horas após o crime

A grande maioria das pessoas já ouviu falar dessa estranha criatura que pertence ao mundo das creepypastas. Slenderman foi literalmente criado online, em 2009, por um usuário que aparentemente participava de um concurso de montagens de foto, onde a pessoa deveria criar algo que não era real, mas que parecesse ser, em fotos já existentes.

Beware the slenderman, ou Cuidado com Slenderman documenta a história real de como essa lenda da era digital influenciou a cabeça de duas adolescentes super impressionáveis, e com certos distúrbios psicológicos e psiquiátricos, a planejar uma morte e executar o ato, fazendo de vítima a melhor amiga de ambas, Peyton – carinhosamente conhecida como Bella.

Eu me lembro perfeitamente do dia em que vi essa notícia na TV. Eu não sabia o que tinha me chocado mais; as meninas terem 12 anos, o fato de terem planejado a morte da melhor amiga com meses de antecedência ou o fato de que ambas acreditavam inteiramente que essa lenda da internet era real. Me lembro de ficar indignada e de pensar o que a grande maioria deve ter pensado: essas meninas são pequenas psicopatas. Onde estavam os pais delas? Como não perceberam nada?

Irene Taylor expõe todo o acontecimento contando com o depoimento dos pais das duas meninas, mostrando como ambas eram na infância e qual era a rotina de cada uma, bem como quais eram seus hobbies e brincadeiras preferidas. O filme nos mostra que aquelas meninas são crianças que cometeram um ato terrível, mas que tinham problemas escondidos os quais ninguém notou antes, que fez com Morgan e Anissa se identificassem uma com a outra e acabassem por cometer o crime juntas.

Durante o documentário, são mostradas filmagens na corte, imagens de câmeras de segurança  na sala do interrogatório – que captam o depoimento das duas garotas apenas algumas horas depois do crime (a sequência mais perturbadora e crua que você verá no filme), depoimentos dos pais e amigos e entrevistas com especialistas em folclore e psicólogos.

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Slenderman é conhecido por raptar crianças

A parte interessante do documentário, na minha opinião, está em mostrar o lado dos algozes, e não da vítima. Porém, apesar de realmente ser interessante, o mesmo ponto também contribui para que o filme seja monótono e até certo ponto, sem uma direção coerente. Começamos a assistir com a impressão de que saberemos mais sobre o personagem famoso da creepypasta, algo que não acontece e que no final acaba ficando tão indefinito quanto era no começo.

O documentário reduz Slenderman à uma projeção de pessoas que estão sozinhas, são inseguras, e que precisam se sentir parte de alguma coisa (um culto ou fã clube) para se sentirem completas ou importantes. Isso fez com que um dos objetos do documentário, o qual até deu nome ao filme, não seja um bom personagem para ser abordado.

Não sei se ficou bem claro para todo mundo, então vou colocar da seguinte maneira:

Em vez de fazer um documentário apenas mostrando imagens da corte e depoimentos emocionados de parentes, por que não apresentar uma análise mais aprofundada da parte que Slenderman teve dentro disso tudo? Talvez procurar por mais casos de doenças mentais que tenham tido o personagem como justificativa para a execução de outro crime? Ou ainda uma análise psicológica sobre as duas meninas e a relação emocional que tinham com o personagem fictício e como isso agravou as doenças pré-existentes delas.

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Há um momento específico no longa que nos dá esperança de que o documentário vá seguir uma linha concreta: quando a diretora entrevista uma garota que já acreditou no Slenderman tanto quanto Morgan e Anissa. Ali estava a chance de tornar o filme algo mais do que puramente ilustrativo, mas infelizmente se perdeu com menos de um minuto de entrevista, quando voltamos às cortes e sala de interrogatório.

O filme acaba sendo puramente uma exposição de vídeos, um atrás do outro somados com depoimentos verdadeiramente emocionados dos pais, para que o espectador fique sensibilizado e talvez um pouco desconfortável por sentir pena de Morgan e Anissa. Mas ele não induz a mais nada, não traz nenhum conhecimento novo, ou uma nova ótica sobre o personagem tão conhecido.

Não, não acho que é um documentário ruim. Só acho que talvez o nome não deveria ser Cuidado Com Slenderman, porque claramente o personagem não foi definido ou estudado de maneira significativa até o fim. Na verdade, eu saí da sala achando-o inofensivo até.

Mas se você está procurando por algo mais leve para assistir no seu tempo livre ou quer saber mais sobre esse caso, eu definitivamente recomendo.

Nota-do-crítico-3

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Nerd: Beatriz Napoli

Devoradora de livros, publicitária apaixonada, tem dois pés esquerdos e furtividade 0 para assaltar a geladeira de madrugada. Se apaixona por personagens fictícios com muita facilidade, mas não tem dinheiro para pagar o psiquiatra que obviamente precisa.

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