Keanu Reeves e o sucesso de John Wick

Filmes de ação têm um apelo ao público muito difícil – não são todos que conseguem cativar e ter uma característica que lhes torne único aos olhos, seja ela qual for. Isso é visível quando procuramos por filmes de ação na Netflix, por exemplo. Raros são aqueles que se destacam, temos uma pilha de filmes genéricos com atores genéricos e sem um diferencial. Eventualmente surge algum que de fato tem algo que lhe torna especial, e isso aconteceu com John Wick, que reuniu dois elementos que já estavam no ar e precisavam meramente de alguém astuto para reuni-los dentro de dois ótimos filmes, mas se pudesse destacar os dois mais essenciais e que mais são genéricos, seria a escolha do ator principal e a parte técnica de ambos os filmes. Ao meu ver, Keanu Reeves não é exatamente o melhor tipo de ator que temos no mercado, mas tem algo difícil de encontrar em muitos atores: carisma.

Veja bem, Keanu teve uma vida extremamente difícil, desde a infância até a vida adulta. Diversas pessoas importantes para ele morreram; amigos, namorada e até uma filha que mal chegou a nascer. Essas são coisas que mudam um homem e a forma como ele se relaciona com o mundo, mas o que poderia virar cinismo acabou virando algo muito além. Quem conhece a história do ator acaba reconhecendo esse carisma por causa disso.

Já tinha passado da hora de darem a ele o filme que ele tanto merecia, onde pudesse mostrar a vasta habilidade que quase ninguém havia se dado ao trabalho de reconhecer, que são suas habilidades técnicas. Filmes de ação são produzidos em quantidade astronômica, seja para o cinema, plataformas de streaming ou direito para DVD. São filmes fáceis, não requerem um investimento pesado em um roteiro, direção, fotografia e elenco – normalmente atores menores são escalados e essa é a grande ‘’força’’ por trás. Todavia,  fazer um filme de ação ser, no melhor dos termos, memorável, exige muito mais do que um ator de segundo escalão ou já apagado. Então, se não se ganha no roteiro ou na direção, faça na parte técnica, algo que todo filme de ação andava pecando desde 1999 quando se falava em Hollywood, algo que The Raid, em 2011, deu aula. Os dois filmes da série The Raid, feitos na Indonésia, já são cult graças à forma como ele monta a ação. São porradas menos fantasiosas e mirabolantes para algo mais cru, fundado em artes marciais, como os antigos filmes do Bruce Lee, além do ‘’plano sequência’’, que desde feito em Oldboy (2003), vem sendo usado quase a exaustão.

Porém, não são todos que entendem como ambos se relacionam e se complementam. Um exemplo que funciona e elucida bem a união de ambos está no segundo episódio da primeira temporada de Demolidor:

O plano sequência é uma cena inteira feita sem cortes, e tal tipo de cena exige muito dos atores, do coreógrafo e do diretor. A pancadaria é contínua para conseguir extrair esse fluxo contínuo. Não só isso: a técnica utilizada é muito bem demonstrada com a atuação, deixando claro como, conforme a luta se torna mais e mais longa, mais cansativa ela se torna e mais cada golpe exige uma força maior, chegando ao personagem de Charlie Cox ter que se empurrar para acertar um soco. Complementando isso, há o storytelling, que faz com que o espectador preencha os momentos onde não se vê o protagonista. São por esses motivos que essa cena em específico marcou tanto a série e é nesse aspecto tão simples que quase todos os filmes de ações pecam, menos John Wick. Mas quem poderia fazer um assassino aposentado da máfia lendário e temido por suas habilidades que retorna após a morte de seu cachorro e o roubo de seu querido carro? Claro que ninguém mais, ninguém menos que um cara carismático de sua própria forma, faixa preta em Jiu-Jitsu e um exímio atirador, Keanu Reeves. Não, sem sacanagem, olha as coisas que ele faz:

Mas qual é o ponto aqui? Por que John Wick já é um clássico moderno e já é uma referência (veja Atômica, por exemplo) em filmes de ação? Utilizar dos clichês baratos dos filmes de ação, reconhecer como um filme de ação despretensioso e entregar uma ação verdadeira, onde há menos dublês trabalhando e mais atores dando tudo de si.

Issotorna John Wick especial, mas ter o Neo ali, podendo trabalhar em algo que ele domina e tem uma clara animação fazendo aquilo é ainda melhor.

Nerd: André Arrais

Pseudo-Cult, apreciador de café, ama quadrinhos como ninguém, rato de biblioteca, gamer casual, não sabendo tirar selfie desde sempre e andando na contra mão dos gosto populares. Finge é cheio de testosterona, mas vive rodeado de gatos. Esse é o meu design.

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