O contexto não poderia ser mais favorável. Era o final dos anos 90, mais precisamente, o ano era 1998. A MTV já era uma potência nos EUA, Europa e até no Brasil e os videoclipes estavam em alta.
O mercado de cinema já queria essa aproximação com o público jovem e pegar essa fatia, mas poucos filmes realmente entenderam o que é a linguagem e ritmo de um videoclipe como Corra Lola, Corra, um dos filmes mais engenhosos e originais deste período, além de ter uma montagem e ritmo alucinantes.
Para o público americano, foi difícil vender este filme que passou longe do radar do Oscar, considerando que as pessoas de lá não gostam muito de legendas e que o filme apresenta uma narrativa muito diferente do convencional.
Em Corra Lola Corra, a Lola do título (vivida por uma Franka Potente ótima e em início de carreira) recebe uma ligação de seu namorado, que perdeu 100.000 marcos no trem da cidade e então ela tem 20 minutos para correr (literalmente!) para conseguir este valor e salvar a vida de seu namorado.
O pai de Lola é filha de um rico banqueiro, mas quem disse que será fácil convencê-lo em tão pouco tempo.
A história de Corra Lola, Corra é basicamente essa, mas o que chama atenção é a forma de como a história é contada: são três pontos de vista de uma mesma trama, com os mesmos personagens, mas as situações mudam. E reparar como elas mudam está em uma das graças de apreciar o filme.
Para o filme não ficar maçante, o diretor Tom Tykwer usa de cortes rápidos, montagem primorosa, ritmo de videoclipe e uma trilha sonora eletrônica de arrepiar, aliás, algumas músicas compostas pela própria Franka.
Situações como a descida pela escada, o encontro com as freiras ou com o ciclista se repetem nas três histórias, mas em mostrar o quanto elas se dissociam é que o filme acerta, sem contar que ele desvirtua o que podemos chamar de “politicamente correto”, já que o namorado de Lola trabalha para um grupo de criminosos e a própria Lola não hesita em assaltar o banco onde seu pai trabalha.
Corra Lola, Corra ganhou vários prêmios ao redor do mundo e se destacou tanto que chegou ao mercado americano. Hoje, recebe status de cult e até hoje é apreciado por amantes de cinema.
Também foi o filme que revelou Franka Potente, que depois estaria na franquia Bourne e também o diretor Tom Tykwer (um dos idealizadores de Sense8, por exemplo).
Corra Lola, Corra pode fugir do convencional, mas seu desfecho (único ponto negativo aqui) não foge dos clichês e transforma o que era engenhoso em apenas “normal”. Uma pena para esta obra cultuada, mas que não estraga a experiência de ser apreciada, mesmo já tendo passado décadas de seu lançamento.
